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A Cagada Final
por Márcia Tondello

Robson se gabava de ser um cagador, digo, “o” cagador. “Faço cinco por dia”, dizia, “Não falha um!”
Foi parar nos noticiários, um escândalo nacional. Logo apareceram outros, e foi aí que a situação ficou incontrolável. “Em pouco tempo nossas reservas de água potável estarão aniquiladas devido ao excesso de descargas”, profetizavam os governantes. “Precisamos conter esse crime, essa barbárie contra a natureza”, começaram a discursar em suas candidaturas.
As leis começaram a surgir :
Art. 4 – Lei 1000001 – Não poderão defecar em sanitários públicos e estabelecimentos governamentais.
Alguns reclamavam, diziam que era uma necessidade fisiológica, eles devolviam que dava para segurar até em casa. Um crime tão hediondo, precisava de medidas mais enérgicas, e a lei foi ganhando novos artigos:
Art.455 – Lei 1000001 – Está proibida a evacuação de excrementos em sanitários privados comerciais, como shoppings e restaurantes.
Foi um pandemônio, muitos chegaram a se cagar na rua mesmo e ameaçavam entrar na justiça por danos morais.
Logo os banheiros residenciais passaram a ser controlados, e só era permitida uma descarga diária por morador.
Os traficantes perceberam o filão e não perderam tempo. Recorrendo a “gatos” na tubulação das cidades, ofereciam “cagadas ilimitadas – preço camarada”.
Robson, em sua necessidade fisiológica de expelir o que tanto lhe afligia, passou a subir o morro, era agora um delinqüente, um fora da lei.
Alguns persistiram e morreram de “nó nas tripas”, devidamente disfarçadas em outras causas tipo “virose”, outros enterravam seus restos alimentares. A situação ficou caótica. O governo, na tentativa de retomar o controle da situação, proibiu a comida. E todos deveriam tomar um comprimido diário, que, segundo eles, supria todas as necessidades de vitaminas, proteínas, sais minerais, carboidrato, e tudo mais de que precisávamos, e gerava um único excremento a cada 30 anos de uso.
Mas alguns não conseguiam resistir ao desejo de uma saborosa comida de verdade. Com o fechamento dos restaurantes, houve muito desemprego, e os desempregados do ramo alimentício passaram a oferecer delícias clandestinamente, junto com o direito a livre cagada.
E os que se negavam a fazer parte da marginalidade? Aderiam ao comprimido, e descobriam, tarde demais, que sua primeira era também sua cagada final.
Surreal? Nem tanto. Este é o caminho provável para os que tem necessidade fisiológica de, não expelir, mas consumir nicotina.

© 2009 Márcia Tondello