Arquivos
- 06-10-2011
- Gurus de Terno por Luiz Mendes Junior
- Um Filme além das Chinelas: A Batalha do Estreito de Hormuz por Jim Chaffee
- 11-01-2010
- Num Beco Imundo com um MagnaCord por Marcello Trigo
- Sobre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário por Giovani Iemini
- 08-01-2010
- Porrada por Luiz Mendes Junior
- Sinistro! por Frodo Oliveira
- Silvia, a Cachorra por Carlos Cruz
- 05-01-2010
- Teófilo Veríssimo – Esfinge por Beto Garcia
- Dom Casmurro 26 por Allan Pitz
- 12-01-2009
- Os Sopradores de Nuvens por Beto Garcia
- Sinfonia 1: Roger Castleman por John Grochalski
- Novo Acordo Ortográfico por Pedro Silva
- 09-01-2009
- O Rolê por André Catuaba
- Sushi por Liliane Reis
- 06-01-2009
- Deliriuns Janas por Luiz Filho
- A Cagada Final por Márcia Tondello
- Sou Corno mas Sou Foda por Victor Borba
- Carmen Miranda e Wittgenstein por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
- 05-01-2009
- Cabeça de Hugo: um Romance de Idéias e o Personagem Neocon por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
- No Metrô por Márcia Tondello
- Uma Alucinante Viagem ao Submundo dos Transportes Públicos Cariocas por Felipe Attie
- 04-01-2009
- Inquilinos na Embaixada do Céu por Luiz Mendes Junior
- Bernardo, Cartas da Imprecisão e do Delírio por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
- A Cabeça e a Bunda por Danielle Souza
- 03-01-2009
- Raimunda por Carlos Cruz
- Pequeno Concerto para Ver no Celular e Escutar no Ifone por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
- O Fardo por Marcello Trigo
- 01-15-2009
- O Expurgador 999 por Allan Pitz
- A Intervenção por Roberto Afonso
- 12-15-2008
- Rogério por Eduardo Frota
- Míssil por Jason Jordan
- 11-15-2008
- O Infante por Liliane Reis
- Oxumaré por Alexandre D´Assumpção
- 10-15-2008
- Eurípedes Crotho, um Escroque por Allan Pitz
- Uma Macumba no Brasil por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
- Uma Análise do Filme Tempo de Guerra (1963) por Rafael Issa
- 09-15-2008
- Três Belas por Juliano Guerra
- Feijoada do Repete por Priscila Biancovilli
- A Menina que Fazia Chover por Frodo Oliveira
- 08-15-2008
- Rotina por Felipe de Oliveira
- Space Bar por Carlos Cruz
- Sobrevivência por Priscila Biancovilli
- A Religião como Ilusão no Pensamento por Rafael Issa
- Anonimato em Crise por Luiz Mendes Junior
- 07-15-2008
- A Vida é uma Porra com Juros por Luiz Filho
- A Noite das Sanguessugas por Jim Chaffee
- Cicatrizes Urbanas, Massa de Gente e de Luz por Thomas R. P. de Oliveira
- 06-01-2008
- Um Pedido a Carlos Cruz por Juliano Guerra
- Komodo por Eduardo Frota
- Em Nome da Fome por Zé Ignacio Mendes
- O Engarrafado por Roberto Afonso
- 05-01-2008
- Sete por Marcello Trigo
- E agora, Jaime? por Luiz Mendes Junior
- 02-15-2008
- Canção de Ninar por Liliane Reis
- Vender é preciso por Dani Nedal
- 01-15-2008
- Ensaio fotográfico: Banho coletivo por Jim Chaffee
- Lua Vermelha por Liliane Reis
- Manequim por Eduardo Frota
- Um Pulo para o Amor por Gilberto Griesbach Junior
- 12-01-2007
- Mensagem de Natal do Diretor Executivo por Sonia Ramos Rossi
- Reflexo por Patricia Azeredo
- Esdruxulidades por Priscila Biancovilli
- A Ordem Natural das Coisas por Eduardo Frota
- 11-01-2007
- O Assassino de Três Corações por Alexandre D´Assumpção
- Aconteceu Num Dia Quente de Verão por Luiz Mendes Junior
- Senhora Lia por Natalia Emery Trindade
- Tropa de Elite: A Alienação Como Origem da Violência por Rafael Issa
- 02-01-06
- A Boneca de Natalia Emery Trindade
- Broca arquivo completo
No Metrô
por Marcia Tondello
Silvia era uma pessoa comum, com marido, filhos, emprego, neuroses e coisa e tal. Uma de suas manias era observar.
Quem nunca no ônibus, metrô, no próprio elevador, não se pegou uma única vez que seja, observando outras pessoas, seus assuntos, seus modos. Bem, Sílvia ia um pouco mais longe, às vezes perdia horas divagando sobre um pedacinho de conversa que ouvia no elevador, tentando dar um final para a estória, ou no metrô quando ficava difícil se controlar para não rir de seus mórbidos pensamentos ao observar as atitudes das outras pessoas.
Foi num desses dias, voltando para casa, no metrô, Silvia percebeu um senhor sentado de frente para ela, num desses bancos destinados a idosos. Notou que ele botava o dedo no nariz e ficava, digamos, enrolando a meleca durante um tempo, depois disfarçava e colava na parte de baixo do banco. A princípio, achou aquilo nojento e tentou desviar a atenção, mas como sempre, sua imaginação não deixava e ela começou a imaginar aquela cena acontecendo na casa do homem.
Imaginou uma casa cheia de crianças, a mulher com rolos na cabeça, fazendo o jantar, Paulo (sim, ela dava nome aos personagens) chegava em casa com ar sério de chefe de família e sentava de pernas para o ar para assistir o Jornal Nacional, cheio de autoridade:
– Vamos parar com este barulho, chego em casa cansado, quero assistir o noticiário. Oh, mãe!! Traz um refresco, que estou cheio de sede.
As crianças corriam para o quarto, onde poderiam fazer todo o barulho que quisessem, a mulher ia pegar com muita má vontade o tal refresco, doida pra colocar duas gotinhas de cianureto, ou qualquer outro veneno nele, e era então que ele fazia. Olhava para os lados rapidamente, certificando-se de que estava só, tirava a meleca, enrolava, olhava cautelosamente para os dois lados e pimba! Grudava embaixo do sofá.
E foi neste ponto de sua viagem particular que Silvia não agüentou e começou a rir sem parar, quase uma crise histérica, chorava de tanto rir. Todos à volta olhavam para a moça com olhar acusador, alguns até se afastavam com receio, e cochichavam com o colega do lado:
– Cada maluco que se vê, veja só aquele senhor em frente dela, um homem sério, tem cara de pai de família, o que será que está imaginando vendo uma cena destas...
No outro canto do metrô, um rapaz de seus vinte e poucos anos observava a cena…

© 2009 Marcia Tondello