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A Cabeça e a Bunda
por Danielle Souza
Estava jogada na rua. Foi na sarjeta que a vi pela primeira e última vez. Depois que o IML a levou, deixei quieto. Essa história guardo há tempos, afinal, não é todo dia que se encontra uma cabeça jogada no meio da rua. Elas estão tão ultrapassadas hoje em dia.
Como?
Ah, não não... Sei de quem era a cabeça não. Ela não me disse de onde vinha e também não perguntei, sei lá... Me acovardei. Se eu fosse uma cabeça solitária, não queria que alguém viesse me perguntando sobre o resto do meu corpo. Afinal, pode-se ser uma cabeça independente. Ficar reparando no defeito dos outros, eu não... coisa mais horrível.
Pobre da Cabeça... Por pouco não a chutei pesando que fosse um monte de lixo, entulho mesmo. Me falou que não era primeira vez que acontecia isso com ela. Um dia antes tinha sido jogada por um desocupado, coitada. Foi parar perto de uma caçamba de lixo. Era por lá que a maioria das cabeças estavam sendo jogadas. Me disse ainda que fez amizade com muitas outras que, iguais a ela, foram arremessadas para fora do caminho.
“Pois é... agora que estamos saindo de circulação, ninguém mais nos respeita. Tá vendo ali, aquela bunda? Ensinei tudo a ela. Tá bom que não aprendeu muita coisa. Não se deve esperar muito daquela Nádega! Mas nunca pensei que, depois de sua valorização, ela mudasse tanto. Logo a Bunda, meu Deus! Que já passou por tanta merda... Achei que fosse mais humilde.”
Concordei com a Cabeça, sabe? Não tinha parado para pensar sobre isso.
Hoje a bunda está supervalorizada. É só alguém ver uma bunda nova, mais cheia, empinada, com adicionais de fábrica, que já se esquecem até do próprio nome. Das duas, uma: ou querem ser iguais a Bunda ou querem a Bunda. E os peitos vão no mesmo caminho. Um dia desses, soube de um par de peitos que furou os olhos de uma cabeça porque não soube responder a altura uma questão levantada por ela, alguma coisa sobre política...
Mas as bundas são piores, dão golpes baixos. Fétidos mesmo. Usam desses métodos porque mal sabem falar, pensar então... Isso não é com elas. E foi a Cabeça que me chamou a atenção para as bundas. E ela não era uma dessas cabeças novas que andam surgindo por aí não, aquelas maquiadas, com chapinhas e pomada. Não... Era uma cabeça mais ultrapassada, daquelas que só sabe pensar e falar.
Fiquei com pena da Cabeça. Mas quem sabe um dia ela volte a ser escutada, valorizada por alguém... Se é que foi algum dia. Mas depois de tanto que sofreu, deve estar acostumada.
Meu conforto é saber que ela vai estar sempre aí, disposta e preparada. Ao contrário da bunda, a cabeça não amolece, não cria estrias, nem se torna celuliticamente repugnante. Sua função, apesar de modesta, tímida até, marginalizada ouso dizer, nunca vai estar fora de uso ou envergonhada pelo ato tão singelo de envelhecer. A Cabeça é o cara! Gostei dela... Estava até pensando em comprar uma para mim.

© 2009 Danielle Souza