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Anonimato em Crise
por Luiz Mendes Junior
Em 1968, o artista plástico Andy Warhol elaborou uma profecia: Todo cidadão teria 15 minutos de fama no futuro, e este futuro levou quatro décadas para chegar. A era da reprodutibilidade alçou vôos digitais, evoluiu, proliferou-se em computadores mais e mais avançados, gerou uma rede mundial que se ampliou e puxou um desenvolvimento tecnológico capaz de criar sítios de armazenamento para texto, foto e vídeo, acessíveis e ampliáveis por todos. Gadgets ganharam poder; perderam peso. Telefones ficaram mínimos e autônomos, com direito à câmera, radio, "ipod", tela de TV, videogame e microprocessador. No bolso de cada cidadão, um portal. Uma janela com bilhete de ida e volta para o mundo do imaginário midiático que consumimos.
Eis o vislumbre de algo que pode parecer um sonho, mas exige um preço. A profecia de Warhol não pressupunha um direito e não sucedeu como tal. Dar "15 minutos de fama" é o dom de nossos brinquedos high-tech, que, como varinhas pós-modernas, não respondem por seus atos. Uma vez feita a mágica, suas conseqüências são incontroláveis, e 15 minutos podem ganhar a eternidade de modo cruel.
Sítios como Orkut, Myspace e Youtube solidificaram o que blogs, fotologs e páginas convencionais já propiciavam em menor grau no ciber espaço. Tornamo-nos potencialmente expositores e expositivos como nunca; algo que pode ser bom, mas também terrível. Um embaraço, um boato ou uma calúnia só precisam de um celular para abandonar a esfera privada e virar item de consumo na rede, às vezes sem o crivo de uma prova. Textos, fotos, filmes e montagens ganham vida, transformando suas vítimas em personagens de uma peça sobre a qual não têm poder. A aura da fama hoje segue além da vontade de quem a busca. Permeia todo o âmbito do convívio humano à espera de um evento que possa tornar "lenda", um ato privado para desvelar, um deslize para "denunciar" e depreciar. Nossos brinquedos são olhos e tentáculos de uma entidade onisciente regida pela primazia do consumo. O Grande Irmão que Orwell idealizou vinte anos antes de Warhol elaborar sua profecia também virou verdade. Não do modo previsto, a serviço de um estado total, mas de um princípio total, uma ditadura do impassível.
A fama não presume um direito, e sim uma eventualidade que pode nos acometer sem aviso. Ser anônimo é estar na arquibancada de uma arena, rindo ou chorando pelos famosos que compõem o espetáculo. Se há anônimos sonhando em arriscar vidas ou reputações no coliseu atrás de glória, há também os protagonistas involuntários, os gladiadores que jamais quiseram lutar e os condenados que um dia foram anônimos e agora mal podem se defender dos antigos correligionários. Do lado "certo" da balança, o "público" permanece a salvo dos olhos do Grande Irmão enquanto pode, partilhando-os, compondo seu corpo invisível e nele nutrindo sua condição. Sabe que o anonimato não é um direito, mas um privilégio revogável sempre que o Grande Irmão quiser. Medo, apatia, vigilância e indiferença são impostos a nós, por nós, através dele, tornando quinze minutos de fama mais uma sina do que uma bênção.

© Luiz Mendes Junior 2008